KEINE DELICATESSEN
SEM ACEPIPES
SEM ACEPIPES
Já
nada me agrada.
Deverei eu
Aprendi a
entender as coisas
com as
palavras
que
existem
(para a
classe mais baixa)
Fome
Vergonha
Lágrimas
e
Trevas.
Com o
soluço impuro,
com o
desespero
(e eu
desespero ainda com o desespero)
por tanta
miséria,
pelo
estado do doente, pelo custo de vida,
sobreviverei.
Não
descuido a escrita
mas a
mim.
Os outros
sabem
sabe Deus
o que
fazer com as palavras.
Eu não
sou o meu médico assistente.
Deverei
eu
prender
um pensamento,
conduzi-lo
à cela iluminada de uma frase?
Alimentar
o olhar, o ouvido
com nacos
de palavras de primeira qualidade?
Estudar a
líbido de uma vogal?
Investigar
a cotação erótica das nossas consoantes?
Terei eu,
com a
cabeça desfeita pelo granizo,
com a cãibra
da escrita nesta mão,
sob o
peso de trezentas noites,
de rasgar
o papel,
varrer as
tramas de óperas de palavras,
destruindo
assim: eu tu e ele ela isso
nós vós?
(Devo.
Devem os outros.)
A minha parte – que desapareça!
A minha parte – que desapareça!
In:
III. ÚLTIMOS POEMAS (1957-1967)
INGEBORG
BACHMANN, O TEMPO
APRAZADO
POEMAS
(1953-1967)
edição bilingue selecção, tradução e introdução JOÃO BARRENTO JUDITE BERKEMEIER
edição bilingue selecção, tradução e introdução JOÃO BARRENTO JUDITE BERKEMEIER
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