sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Gente das boas maneiras - públicas, da aparente seriedade para impressão de correcção, do respeito - fingido, do respeito nunca sentido quanto mais praticado, gente que  procura mostrar na ironia pseudo- ferida a superioridade que não tem e assim espera selar os lábios a voz que fale de sua justiça e abafar razão da voz do outro e a voz da razão do outro.
 
Só a ironia - que é distância afectiva em relação ao outro - é verdadeira, a ferida não, pois não pode sentir-se ferido aquele que feriu outro deliberadamente e em gozo e em riso.
 
Naquelas noites fui demasiado usada e gozada e abertamente tão espoliada - e colectivamente, embora não tenha dado qualquer consentimento para enquanto conversava com um amigo, outras pessoas, que nem conheço, ouvirem a conversa que eu julgava processar-se privadamente com ele - fui afectivamente tão abusada que qualquer gesto, silêncio ou palavra, insincero, qualquer gesto insincero já não me cega, já não me manipula emocionalmente, já não me diminui para me fazer desaparecer na minha própria razão, já não me cala na minha verdade, não elimina a verdade.

Põem-te a mão na boca para te a fecharem para simultaneamente parecerem gentis e dolorosos mas não põem a mão na sua consciência que fazendo surgir algum pequeno remorso lhes abrisse o coração ao que feriram  - não, isso nunca. Continuam a mostrarem-se eles os feridos - e alegres.

E assim tem que ser - senão não tinham justificação para a enormidade sem fim e eterna que fizeram comigo. E não há.

Mas folgo por saber que se encontra viva.

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