«Vi na minha
lembrança, isto é, recordei: chamei ao espírito - exercendo uma faculdade dele
- a poeira dos objectos: a imagem»
«A minha face
é um buraco negro onde a alma se abisma»
«O eu debaixo
de mim plataforma onde ando e me deito em equilíbrio, trampolim de onde salto
até à manifestação da minha aparência»
«Despeço-me do
ar. O ar é o último sítio de que me despeço, guardo memória do ar para depois
[de morrer] a minha alma respirar.
«Estou
semi-consciente nas convulsões»
«Pus as mãos no meu coração e elas desapareceram, meu coração antropófago. Tenho as mãos presas»
«Eu respiro a
aura das pessoas»
«Meu corpo é
uma lesão. Alma e corpo ajustam-se, devoram-se um ao outro e eu desapareço»
«Esta sombra
caiu do sítio mais puro do céu. toda ela é essência e luz»
«A lua caiu na
noite do meu peito, gelo aquecendo o meu útero»
«Tenho a
esquizofrenia das sereias: gostava de ter carne para amar os homens mas sou só
espírito.» [eu sofria de anorexia, pesava apenas 35 kg)
«Pesar as
imagens interiores? Elas não têm peso? Ó, são elas que como pedra me fazem ter
os pés na terra»
«Escrever: pôr
em acção o próprio ser»
«Introspecção:
abrem-se muitas portas mas o caminho é só um, o dos abismos»
«A alma gravita
em torno de mim, é o meu cometa [porque me segue], enquanto o corpo anda
rectilineamente, é o meu cometa perpendicular»
«É
da alma que me vem o ar. O ar é interior em mim»
in: Fragmentos sem data de um diário
notas, apontamentos ficcionados
(o «eu» como investigação e matéria fundadora de Criação)
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